Ditos Escritos

A palavra escrita é a mais pura expressão do pensamento, ou melhor, de um sentimento... Escrever é mostrar-se, expor-se, colocar-se, marcar sua passagem pela vida... Este espaço é para quem, como eu, gosta de ler... e de escrever...

Friday, September 11, 2015

Mulheres Maduras

À medida que o tempo passa, nos tornamos mais interessantes...
Interessantes porque já não dependemos mais das opiniões alheias.
Interessantes porque cada vez mais fincamos o pé nas nossas escolhas sem dar tanto espaço ao desequilíbrio.
Interessantes porque a despeito de tudo isso, nos tornamos cada vez  mais tolerantes.
Cada vez mais distantes de pequenos caprichos como competir com os semelhantes.
Tolerantes com as diferenças e respeitando mais as escolhas alheias.
Tolerantes porque o tempo nos mostrou que muitas das nossas convicções foram alteradas pelo caminho e se tornaram menores.
Porque nos tornamos cada vez mais inquietas com nossas certezas incontestáveis...

Eliete Ramos
Setembro/2015

Saturday, January 29, 2011

COMPANHEIRO DE VIAGEM

Minha vida foi marcada por músicas e cães...
Assim como a música, os cães constituíram parte importantíssima na minha trajetória.
Assim como a música, sempre estiveram presentes, principalmente nos momentos mais difíceis.

Cães não são como gente, são mais nobres!
Amam seus donos acima de qualquer coisa, um amor incondicional, de fazer inveja ao amor humano...

Só quem tem um amigo de jornada, conhece a alegria de tê-lo...
Só quem teve um amigo de jornada, conhece a dor de perdê-lo...

Eliete Ramos
Jan/2011

Sunday, May 23, 2010

PARAÍSO

Paraíso

Desperto com o som de pássaros cantando, mistuado ao som de carros que já rodeiam a minha cama num eterno despertar...

Há pássaros no Paraíso! E eles insitem em cantar apesar do barulho da cidade...

Parecem tranquilos e acomodados. Cantam sem serem interrompidos. Ignoram os gritos da cidade ou, como eu, já se acostumaram com eles... são pássaros urbanos...

Surpreendo-me: Há pássaros no Paraíso!

E eu retardo meu levantar e sinto, além dos pássaros, a cidade a cantar... viva, pulsante...

Sinto-me, eu também, viva como a cidade e reluto em levantar...
Sinto-me aconchegada pela cidade e seu burburinho matinal...

Espreguiço, sorrio, lembro a música do Chico, durmo novamente e novamente um pássaro a me despertar...

Só aqui coisas tão distintas podem co-habitar em harmonia...
Só aqui há lugar para pássaros e carros...

Me sinto viva... me sinto feliz!

É esse o bairro onde moro...
É essa a cidade que amo...
É essa a cidade em que vivo...
Sampa, é essa a minha cidade!

Eliete Ramos
Maio/2010

Saturday, October 03, 2009

GOSTO

Gosto

Gosto do pôr do sol
Gosto de olhar as nuvens caminharem
Gosto de pessoas
Gosto de animais
Gosto de gentileza,
de carinho
Gosto de ouvir,
também gosto de falar

Adoro cantar...

Gosto de respeito,
de cuidado
Gosto de receber,
também gosto de dar
Gosto de ler
e de escrever
Gosto de pensar
Gosto de tocar

Amo música...

Gosto de sensibilidade,
de compreensão

Adoro parcerias...

Gosto de colo
Gosto de caminhar sem destino
Gosto de dirigir
Gosto de olhar o horizonte
Gosto de aprender
Gosto de conhecer
Gosto de observar

Adoro um abraço...

Gosto de beijar
Gosto de sexo
e de namorar
Gosto de São Paulo
Gosto da vida
Gosto de solidariedade
Gosto de privacidade
Gosto de chocolate
e de doce
Gosto de cumplicidade
Gosto de aconchego,
de proteção
Gosto de liberdade
Gosto de ar

Adoro voar...

Gosto de avião
e de decolar
Gosto do meu quarto
e da minha cama

Acho que gosto de mim...


Eliete Ramos
Set/2009

Monday, August 03, 2009

FOR ELTON II

For Elton II

Que seria de minha alma sem sua música?

Já estaria há muito perdida, vagando solta no espaço infinito sem lugar seguro de pouso pra descansar.
Se há exatos quarenta anos encontro âncora no seu som...

Que seria de minha alma sem sua música?

Falo em alma porque é ela quem vagueia; o corpo caminha, não obstante queira permanecer inerte, largado, há um dado momento ele levanta e anda...
Talvez já algo apreendido de longa data: quando lançado à beira da estrada, ele levanta e vai... sem direção, meio sem rumo, sem saber direito pra onde, mas vai!

Já a alma, essa vagueia sem descanso. É ela que se sente perdida, é ela que não tem alento, é ela que não consegue alívio, nem paz...
Porém também é ela a única a alcançar sua música... ou a ser alcançada por ela...

Às vezes me pergunto quem atinge quem? Quem alcança quem? Quem se molda em quem, a alma na música ou vice-versa?
Difícil responder, nem mesmo sei se necessário...

Que seria de minha alma sem sua música?

Que canto ela teria pra repousar?
Que estímulo ela teria pra de novo recomeçar?
Que luz ela teria pra vislumbrar?

Que seria de minha alma sem sua música?

Eliete Ramos
Agosto/2009


Friday, June 26, 2009

CARTAZ DE RUA

Cartaz de Rua

Colocada perante uma multidão, quem passava, quase sempre olhava... e a moça do "out door" sorria para todos...
Homens, mulheres, crianças, carros... a moça sorria... O tempo estava calmo.
Seus cabelos eram louros e estavam soltos. Seus olhos verdes, suas feições perfeitas!
A moça sorria e o dia estava claro.
Colocada em vários pontos da cidade, ela esperava o anoitecer, mas o que ninguém esperava: Com a noite veio o vento frio que gelou a moça do cartaz... E alguns arrepios podia-se notar em seu rosto, olhando com precisão. Podia? Ela sentia seu arrepio...
Mais um dia amanheceu, o sol de novo... A moça sorria...
À tardinha, porém, chegou e com ela uma chuva grossa desabou.
Incrível! Passada a chuva podia-se notar o cabelo da moça muito molhado. Podia? Ela sentia seu cabelo molhado...
A moça, porém, não sorria mais. Seus olhos estavam tristes, a chuva estragara seus cabelos...
E agora? Se seguira à chuva, um vento frio e o cabelo da moça voou e secou com o vento... e ficou armado e meio opaco...
Agora a moça chorava... Como?! Ela era um "out door"... um "cartaz de rua"... Um "cartaz de rua" com vida?!
As lágrimas da moça molharam sua maquiagem, duas finas linhas pretas escorreram de seus lindos olhos verdes, agora sem nenhuma cor, sem nenhuma vida...
Ora! A moça do cartaz agora esta feia e triste, apesar de suas feições perfeitas.
Com a mesma intensidade com que ela se sentira feliz e grande ao ser colocada como cartaz, um lindo cartaz, sentia-se agora triste e pequena perante todo aquele povo que passava e lhe olhava...
Se ao menos ela pudesse fugir, se despreender do cartaz, mas qual! Era só um retrato de rosto grudado nos grandes paredões da cidade...
E aquela gente que passava e lhe olhava...
Mas como podia ser, aquela gente não lhe olhava com estranheza, ela devia estar bonita ainda...
Sim, e estava.
Ela era apenas um "cartaz de rua", um "out door", as pessoas continuavam a vê-la bela, penteada e pintada como antes, apesar da chuva e do vento...
Claro, ela era um "cartaz de rua" e toda a água que batia, escorria sobre a superfície do papel...
Mas só ela sabia que embora as pessoas não vissem, seus cabelos estavam molhados, seus olhos borrados e seu sorriso apagado...

Eliete Ramos Pereira
1978

Sunday, May 10, 2009

AVESSO

Avesso


Caetano diz que Sampa é o avesso do avesso do avesso do avesso.
Se é o quarto avesso, já não é mais avesso.
Sinto-me como a cidade, o avesso do avesso.
É como se não coubesse, não entrasse, não encaixasse.
Pertenço a que? A que lugar?
Onde me pertenço?
Que lugar é esse, árido?
Uma caixa... tamponada e sem ar.
Consigo sentir, difícil dizer ou escrever.
É um lugar de ninguém, um lugar que não é lugar, é vazio, é solidão...

Eliete Ramos
Maio/2009