ACOMODAÇÃO

Acomodação

Me recuso a acomodar-me.
Não posso aceitar a apatia.
Guilherme, Elton, façam-me acordar!
Eu quero vibrar novamente. Não quero esquecer da vida, não quero apagar...
Quero estar sempre atenta pro sonho, pra luz, pro que não é concreto nem pé no chão...
Não posso me corromper como essa gente. Essa gente que não sabe o que é o sonho, que não sabe o que é sonhar, que não consegue ver a vida além do cocreto, do que se pode ver e tocar.
A minha vista vai mais longe, sempre foi!
A minha intuição é aguçada. O meu amor ainda vive e transcende.
Não, eu não quero passar pela vida sem vivê-la.
Pelo amor de Deus, não quero assistir feito bôbo!
Mas, ao mesmo tempo, a vida aflita me chama e por vezes, confesso, me consome. E sinto tanto medo. Medo do sonho passar, medo de não ser mais capaz de reconhecê-lo, medo de me acomodar.
Eu queria ser tanto, consegui um outro tanto, não o que almejava e, de repente, não sei se sou feliz, eu comigo.
A alma de um pássaro nunca descansa, ela quer sempre voar. E eu sempre quis voar! Não posso parar de querer!
Preciso estar sempre levantando vôo e só o consigo com a música. A música faz parte de mim, embora, infelizmente, eu não consiga viver só disso...
É estranho sentir-se dividido entre o sonho e o mundo real, daí a beleza e a singularidade da adolescência, tudo é só sonho...
É difícil ter, habitando em si, o concreto e o abstrato. Será Arte? Será Arte?...

Eliete Ramos Pereira
Maio/1994