Ditos Escritos

A palavra escrita é a mais pura expressão do pensamento, ou melhor, de um sentimento... Escrever é mostrar-se, expor-se, colocar-se, marcar sua passagem pela vida... Este espaço é para quem, como eu, gosta de ler... e de escrever...

Friday, June 26, 2009

CARTAZ DE RUA

Cartaz de Rua

Colocada perante uma multidão, quem passava, quase sempre olhava... e a moça do "out door" sorria para todos...
Homens, mulheres, crianças, carros... a moça sorria... O tempo estava calmo.
Seus cabelos eram louros e estavam soltos. Seus olhos verdes, suas feições perfeitas!
A moça sorria e o dia estava claro.
Colocada em vários pontos da cidade, ela esperava o anoitecer, mas o que ninguém esperava: Com a noite veio o vento frio que gelou a moça do cartaz... E alguns arrepios podia-se notar em seu rosto, olhando com precisão. Podia? Ela sentia seu arrepio...
Mais um dia amanheceu, o sol de novo... A moça sorria...
À tardinha, porém, chegou e com ela uma chuva grossa desabou.
Incrível! Passada a chuva podia-se notar o cabelo da moça muito molhado. Podia? Ela sentia seu cabelo molhado...
A moça, porém, não sorria mais. Seus olhos estavam tristes, a chuva estragara seus cabelos...
E agora? Se seguira à chuva, um vento frio e o cabelo da moça voou e secou com o vento... e ficou armado e meio opaco...
Agora a moça chorava... Como?! Ela era um "out door"... um "cartaz de rua"... Um "cartaz de rua" com vida?!
As lágrimas da moça molharam sua maquiagem, duas finas linhas pretas escorreram de seus lindos olhos verdes, agora sem nenhuma cor, sem nenhuma vida...
Ora! A moça do cartaz agora esta feia e triste, apesar de suas feições perfeitas.
Com a mesma intensidade com que ela se sentira feliz e grande ao ser colocada como cartaz, um lindo cartaz, sentia-se agora triste e pequena perante todo aquele povo que passava e lhe olhava...
Se ao menos ela pudesse fugir, se despreender do cartaz, mas qual! Era só um retrato de rosto grudado nos grandes paredões da cidade...
E aquela gente que passava e lhe olhava...
Mas como podia ser, aquela gente não lhe olhava com estranheza, ela devia estar bonita ainda...
Sim, e estava.
Ela era apenas um "cartaz de rua", um "out door", as pessoas continuavam a vê-la bela, penteada e pintada como antes, apesar da chuva e do vento...
Claro, ela era um "cartaz de rua" e toda a água que batia, escorria sobre a superfície do papel...
Mas só ela sabia que embora as pessoas não vissem, seus cabelos estavam molhados, seus olhos borrados e seu sorriso apagado...

Eliete Ramos Pereira
1978