PARA VER SE VOCÊ ME ENTENDE...

Para ver se você me entende...


Quando me senti perdida e só, completamente só, me odiei, não me perdoei, me culpei, me senti incapaz, me arrependi.

Me arrependi muito e tanto que me deprimi. E a depressão é terrível...

A loucura perto dos olhos abertos e a sede de viver. Viver tudo, tanto e o muito que não vivi.

Para quem vinha sofrida, calada e assustada, me deparar com você, que loucura, que espanto!

Senti tanto medo. Muito e tanto medo que me esqueci. Me esqueci que a vida ainda ia comprida e que ainda teria tempo. Tempo! Que medo do tempo ser curto! E senti medo como um surto... Um surto de tristeza, de agonia e de espanto. Medo de não viver, de ver cortados todos os meus direitos, medo de me anular. Eu, justo eu! Não seria justo, não de novo... Eu só estava assustada. Eu só era uma criança, querendo colo também...


Eliete Ramos Pereira
1983

COM QUEM HÃO DE FICAR?...

Com quem hão de ficar?...


Com quem hão de ficar todos os meus discos?
E meus contos, meu livro, com quem hão de ficar?
E todo esse amor, essa sensibilidade?
E minhas lutas, minhas vitórias, meus fracassos?

E os cães, o que vive e os que ainda vivem em mim?
E a criatividade, as idéias, os sonhos?
Com quem hão de ficar todas as minhas paixões?
Poderei eu passá-las a meu filho?

Com quem hão de ficar minhas vontades, minha força de vontade?
Como hei de ficar eu, sozinha, sem abrigo, sem poder viver e sem
querer morrer?...


Eliete Ramos Pereira
Jan/1983