Ditos Escritos

A palavra escrita é a mais pura expressão do pensamento, ou melhor, de um sentimento... Escrever é mostrar-se, expor-se, colocar-se, marcar sua passagem pela vida... Este espaço é para quem, como eu, gosta de ler... e de escrever...

Sunday, March 09, 2008

DESPEDIDAS

Despedidas

Na vida fiz várias despedidas.
Umas voluntárias, outras nem tanto assim, mas necessárias.
As despedidas são sempre difíceis e sempre penso que não vou sobreviver a elas, mas sempre sobrevivo (?).

Parece que só da música não consigo me despedir.
Ela está irremediavelmente gravada em minha alma feito tatuagem.
Percebo hoje, após tantos anos de estrada, que alguns sons estão impregnados no meu ser de uma forma indelével, inequívoca, impossível de serem removidos.

Não é do cantor que não consigo me despedir, não é da pessoa do cantor, é da sua criação, é de algo que está no âmago do seu ser quando ele compõe.
É como se fosse de ser para ser, a nossa comunicação, de alma para alma, não é a pessoa, mas sua essência, onde o ser, de alguma forma, abriga sua sensibilidade.

Às vezes me percebo tentando fazer com seres normais essa mesma ligação, esse mesmo contato... inútil, impossível.
A mim parece que trata-se aqui de algo que só se dá de alma de poeta para outra alma de poeta...
Não é possível fazê-lo com a parte mortal do homem, vai além do humano.

Despedidas são sempre despedidas.

Creio que sempre tristes porque sempre levam um pouco de nossos sonhos, de nossos ideais, de nossas certezas, de nossas almas essencialmente infantis.
... Mas são necessárias.

Parece que quando são inevitáveis, vão dilacerando nosso corpo pelo caminho e nos deixando destroçados, mas logo adiante percebemos que ainda estamos inteiros, ainda estamos vivos, irremediavelmente vivos, ou será que mais para mortos-vivos?

Despedidas são necessárias a cada etapa de nossas vidas, a cada ciclo.
E a vida continua, às vezes sombria, às vezes festiva, mas continua sempre, ela não nos permite o prazer do descanso, do estancar... e, às vezes, como clamamos por isso...

Despedidas são sempre despedidas.

Pena que poucas pessoas sejam capazes de se deixar tocar na alma, assim como deixo que a música faça comigo.
Os seres estão sempre apressados, sempre querendo mais, sempre tentando sobreviver dentro do seu próprio narcisismo, sempre olhando para o umbigo.
Pobres, não conseguem distinguir um verdadeiro amor, não conseguem ser tocados na alma, não o permitem.
Pobres-ricos, pensam que são felizes...

Despedidas são sempre despedidas e sempre são tristes...

Penso que já estou muito cansada.
Penso que já vivi muitas despedidas.
Penso que o tempo (mortal) é implacável e não pára.
Penso que meu coração mais uma vez está partindo, se retirando de novo e novamente.
Penso que estou me despedindo... de você.

Eliete Ramos
Março/2008

Sunday, March 02, 2008

UM GRITO

Um grito


O que me mantém assim, aprisionada?

Por que ando em círculos?

Que paredes transparentes são estas, que me oprimem?

Onde a saída?

Quando e como entrei neste labirinto?

Qual a chave, por que não posso vê-la?

Por que nem a solidão mais me faz companhia e tudo se perde no vazio?

Como me sinto?

Em que saguão da vida me encontro?

Em que ano emocional, atemporal?

Acho que preciso de um guia...

Suspeito que não exista nenhum guia...

Acho que se ficar quieta, parada, as paredes possam cair e talvez eu possa sair...

Sair de onde? Pra onde?

Será necessário mesmo sair?

Por que me mantenho assim, aprisionada?


Eliete Ramos
Fevereiro/2008